quinta-feira, 11 de setembro de 2008

'Surfe de sofá' é ótimo intercâmbio cultural, relata repórter do G1

Materia publicada no portal G1 a alguns meses atrás:


"Jornalista teve cinco experiências nessa comunidade virtual -todas positivas.Ele recebeu estrangeiros que nem conhecia em sua casa, em SP.

Daniel Buarque Do G1, em São Paulo entre em contato

A idéia soa como loucura quando apresentada pela primeira vez: receber estrangeiros completamente desconhecidos dentro de sua casa para oferecer uma experiência turística diferente, muito além do roteiro das agências e guias de viagens. Eles chegam, recebem uma chave da sua casa, conhecem sua rotina e saem com você para ver sua cidade. Sentem-se tão em casa que até dormem no sofá.

As "surfistas de sofá" canadenses Larin (na ponta esquerda) e Ashley(no canto direito), em churrasco no Rio de Janeiro (Foto: Daniel Buarque/G1)
Bem-vindo ao mundo dos surfistas de sofá - o "Couch Surfing", no original em inglês. O repórter do G1 participou desta comunidade virtual nos últimos três meses e descobriu que a premissa, por mais louca que pareça tanto para o anfitrião quanto para o hóspede, oferece uma oportunidade inédita e simples de intercâmbio cultural entre pessoas de todo o mundo. A proposta da comunidade é mais do que oferecer hospedagem gratuita, o que já seria algo excelente. O ideal é criar essa ligação entre pessoas de origens e culturas diferentes. Em cada experiência de hospedagem, as pessoas conversam, discutem, ensinam algo novo e criam amizades verdadeiras. Segundo as estatísticas do site, são quase 25 mil amizades forjadas pelo sistema. Leia mais sobre o couch surfing aqui


Um sofá de cada vez

O repórter do G1 teve cinco experiências nesta rede virtual: hospedou em sua casa, em São Paulo, um francês de Estrasburgo, uma portuguesa e uma italiana que moram no Rio de Janeiro, um italiano de Milão, um irlandês de Dublin e duas canadenses de Alberta. Cada experiência foi precedida de um alto nível de preocupação e ansiedade. Havia a sensação de não saber se tudo ainda estaria no lugar dentro de casa, mas todas acabaram sendo extremamente positivas.

No começo, o Couch Surfing funciona como qualquer outra comunidade na internet, como o Orkut ou o Myspace. Cada pessoa entra no site, cria uma perfil, adiciona fotos, cria ligação com os outros participantes que já conhece, se apresenta e diz a que veio. Tudo é gratuito. A partir de então está valendo. Tanto podem começar a chegar pedidos de hospedagem na sua casa quanto já é possível pedir hospedagem em qualquer lugar do planeta. No último fim de semana, eram mais de 430 mil surfistas em todo o mundo, representando 224 países e mais de 36 mil cidades.


'Não somos albergue'

Na experiência da reportagem do G1, foi feito o aviso de que a oferta não era apenas por uma cama gratuita, mas sim o interesse cultural. O surfista que quisesse hospedagem teria que estar interessado em conhecer os donos da casa, conversar sobre seu país de origem, dividir uma cerveja e conhecer São Paulo. Após pagar a taxa e passar a ser “membro verificado” da comunidade, começaram a chegar os pedidos de hospedagem.

O francês

Alain Kern, o primeiro visitante, entrou em contato por e-mail pedindo hospedagem. Vindo de Estrasburgo, na França, ele trabalhava no cultivo de plantas carnívoras e ia ficar 3 meses na América Latina.
Saiba mais

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Esta também era sua primeira viagem pelo Couch Surfing. “Eu realmente me senti como se estivesse em casa”, contou depois, ao dar o testemunho sobre a experiência. Ele chegou à estação de metrô mais próxima no horário combinado por e-mail e telefone. Foi convidado e se juntou ao repórter logo na primeira noite em um bar para conhecer mais brasileiros e acabou ficando por 5 noites, duas a mais de que o combinado anteriormente. Em seguida foi para o sul do Brasil, para a Argentina (onde foi assaltado na rua) e para o Chile, segundo ele contou numa mensagem de feliz ano novo.

As européias cariocas

As arquitetas Sara e Beatrice, de Portugal e da Itália, respectivamente, estavam morando no Rio de Janeiro e pediram hospedagem para vir a São Paulo. Apesar de terem mandado e-mail um pouco em cima da hora, na véspera da data em que chegariam à capital paulista, houve tempo para acertar tudo. Elas ficariam o fim de semana. Desconfiadas, pareciam um pouco inseguras no começo, mas depois se mostravam realizadas com a experiência. A loucura que o Couch surfing pode parecer envolve o medo do turista estrangeiro, sem falar o idioma do país, chegando à casa de pessoas completamente desconhecidas.

O surfista de sofá italiano Niv Froman prepara almoço na cozinha do repórter do G1 (Foto: Daniel Buarque/G1)


Ao se despedirem para voltar ao Rio, deixaram um livro de presente, com uma dedicatória em que se diziam felizes por poderem ver a confiança mútua que faz uma idéia tão arriscada funcionar tão bem.

O biólogo italiano

Depois veio o biólogo italiano Niv Froman, a caminho da Nova Zelândia, onde fará seu doutorado. Ele buscava exatamente o intercâmbio cultural já citado, a possibilidade de ver São Paulo como quem mora na cidade. Mesmo sem falar português, ele se locomoveu sem problemas pela cidade. Chegou à casa onde foi hospedado, no bairro de Santa Cecília, trazendo uma garrafa de licor e um pedaço de queijo parmesão de presente e passou duas noites de conversas como se já conhecesse os anfitriões de longa data. Chegou mesmo a ir a um supermercado para poder comprar os ingredientes e preparar, ele mesmo, uma massa segundo receita tradicional da sua família, na Itália.

Irlanda e Canadá

Depois dele ainda veio o irlandês John Corrigan, que começava uma viagem de um ano pelo mundo. Ele acompanhou os anfitriões numa feijoada de aniversário na casa de uma amiga, seguiu para Foz do Iguaçu e acabou voltando para mais uma noite em São Paulo, antes de ir passar o carnaval no Rio. E depois vieram as canadenses Ashley e Larin Guenther, que ficaram apenas uma noite em São Paulo, mas acompanharam a reportagem num churrasco na Tijuca, no Rio de Janeiro, e no último ensaio da escola de samba Vila Isabel, antes do carnaval deste ano.


Segurança

A diferença do Couch Surfing em relação a grupos como o Orkut é que há um sistema de segurança. As redes de amizades, de trocas de testemunhos, de avaliação de quem já foi hospedado por cada participante, os votos de confiança vão aumentando o grau de garantia que o hóspede ou o anfitrião merecem. Em sua apresentação, o site diz já ter havido quase 650 mil experiências positivas. Para garantir isso, além do sistema de testemunhos é possível "comprar" segurança. Apesar de ser gratuito, o site oferece a possibilidade de a pessoa subir de nível de segurança em sua apresentação a partir de uma doação de cerca de US$ 15 (cerca de R$ 26). Ao fazer o pagamento, via cartão de crédito, o couch surfing descobre se a pessoa realmente é quem diz ser, e envia uma carta com um código de segurança para o endereço que a pessoa declara, garantindo que o lugar realmente existe.

Além dessa forma de se tornar um destino mais seguro e um surfista mais confiável, há um sistema de VIPs, os embaixadores de cada cidade e os vouchers. Só quem já recebeu três vouchers, um símbolo de confiabilidade, pode oferecer um desses símbolos a outros surfistas. O voucher é um testemunho mais garantido de que é seguro surfar em determinado sofá.


Sem obrigações

Apesar de haver todo um sistema de regulação entre os participantes, ninguém é obrigado a nada. Todas as hospedagens são negociadas de forma independente entre o viajante e o anfitrião, definindo quantas pessoas podem ir, o tempo que podem ficar hospedados, o que podem ou não fazer na casa, além do tipo de hospedagem que é oferecido. O anfitrião também define se quer ou não receber cada viajante de acordo com o seu perfil e o que ele oferece, além de poder dizer se pode e quer mostrar a cidade e fazer o papel de guia turístico. Não é preciso nem mesmo receber alguém para poder pedir para ser hospedado em viagens pelo mundo. Alguns dos “surfistas” até avisam que não podem receber ninguém, mas pedem hospedagem mesmo assim. O tipo de relação vai depender do que cada membro da comunidade procura. Enquanto alguns dos que oferecem sofás prometem festas intermináveis, outros são mais quietos e oferecem hospedagem, dicas, saídas mais leves. Para cada viajante há um perfil diferente de sofá.


O outro lado

Na véspera da publicação desta reportagem, dois novos pedidos de hospedagem chegavam pelo site ao repórter do G1: de um inglês e de uma alemã. Como é mais seguro, o ideal é avaliar com calma cada um deles, estudar as datas, os perfis dos surfistas, para depois decidir se vale a pena ou não hospedá-los. E em breve o repórter do G1 deve partir para o outro lado, o de surfista em sofás da Europa. Mais uma vez serão estudados com cuidado os perfis disponíveis. Por mais experiências positivas que possa haver, é sempre bom lembrar que cuidado nunca é demais."

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